Perdidos na noite

Data: 26/06/2009 (sexta)

Horário: 18h25min

Distância: aproximadamente 25,3 km

Tempo: 2h42min

 

Alguns ciclos terminam para dar lugar a outros. Encerrou-se o da Maratona de São Paulo, no final de maio. E começou outro, o da Maratona das Praias. Daqui até setembro, espero que os treinos longos sejam mais profícuos que os da temporada anterior. Estreei na semana passada, com um protótipo de longão, 17,4 km apenas e em voo solo. O segundo, esse sim com distância mais intimidadora, seria em conjunto.

 

O percurso do treino

 

Recomenda o senso comum que os treinos, sobretudo estes longos, sejam feitos simulando as condições da competição-alvo. Leia-se: de manhã. Não tenho esta disponibilidade, infelizmente. Durante a semana, não consigo encontrar disposição para madrugar e treinar antes do trabalho. Nos finais de semana... Bem, neles têm corrida, e eu, como é de conhecimento geral, ainda não cheguei ao ponto de abrir mão das provinhas por conta dos projetos maiores. Posso estar errado e provavelmente esteja mesmo. Mas, se tiver que escolher entre uma e outra, fico mesmo com as duas.

 

Para este treino noturno pelas ruas e avenidas movimentadas de São José dos Campos, sobretudo nessa hora do rush, a convocação foi feita na Unimed Run, no domingo anterior. O Wilson veio me perguntar quando eu faria o meu próximo treino do tipo. O Luis Carlos se interessou, o Michel também (só que acabaria não podendo ir). Durante a semana, chamei o capitão Zebra (estendendo o convite para o restante da equipe) e o Toninho Corredor. No final das contas, fomos em quatro para a pista: eu, Toninho, Wilson e Luis Carlos. Pouco depois das 18h, em frente à Vinac, estávamos reunidos para enfrentar o trajeto meio doido, cheio de labirintos que eu bolei no MapMyRun.

 

O Aquarius à noite

 

Seguindo inicialmente pela Avenida Cassiano Ricardo, começamos em ritmo lento e confortável. O trânsito era pesado, todo cuidado era pouco nas meias-luas e cruzamentos do Jardim Aquarius. A baixa velocidade nos dava a condição de colocar o papo em dia durante o trote. Mais à frente, viramos à esquerda e chegamos ao início do trajeto de vários outros treinos anteriores que eu já havia feito com o Toninho. Pegamos a descida ao lado do hipermercado e, nela, a velocidade aumentou naturalmente. A primeira passagem pela Avenida Comendador Vicente Paulo Penido seria curta. Logo estávamos subindo de novo pela Avenida Salmão (olha que requintado!), rumo à Praça Ulysses Guimarães. Desta vez, sem corridas-surpresa por ali. Já tinham ficado para trás dois quilômetros.

 

Contornamos a praça da universidade, com quase um quilômetro de extensão. Pegamos a outra parte da Salmão e voltamos à Cassiano Ricardo, para passarmos novamente pelo ponto de partida. Nova curva à direita e pegamos outra descida, para o outro trecho da avenida da parte baixa do bairro. Hora de pegar o trechinho que não aparece sequer no mapa ( precisando atualizar as imagens, hein, Google?), ligando o Aquarius à Avenida Jorge Zarur, popularmente chamada de Vidoca, devido ao córrego que a divide ao meio. Trecho da corrida de domingo. Fingindo acelerar, brinquei com os companheiros de treino: “Unimed Run!!!”. Todos ali tinham participado dela.

 

O Vidoca à noite

 

O semáforo para pedestres no cruzamento com a Avenida São João tem um timer, que sempre ajuda os corredores a tomarem a decisão entre parar ou seguir. Quem dera outros tivessem este mesmo recurso. Passamos na boa por dois dos segmentos das avenidas, mas tivemos que parar no terceiro, já chegando ao shopping. Luis Carlos e Wilson seguiram, eu e Toninho, gato escaldado, ficamos. Coincidência ou não, estávamos ambos com camisetas da mesma prova, a Oscar Fashion Running de 2008. Amarelão berrante mesmo, para ser visto de longe por motoristas mais afoitos.

 

À esquerda no final da reta da Avenida Eduardo Cury estava a entrada para a Via Oeste, mas antes dela, tínhamos um bairro inteiro para circundar. Passamos reto por ali e, após a entrada do parque aquático, seguimos pela Avenida Lineu de Moura. Bom lugar para uma corrida, conforme disse o Luis Carlos na passagem por ali. Mas de não tão boas lembranças. O Circuito Fila de 2006 fechara ambas as pistas e causara um transtorno monstruoso, ainda mais em uma movimentada tarde de sábado. Desde então, nenhuma outra prova fora realizada nos arredores. A parte já (quase) acabada da reforma na calçada deixava a pista deliciosa para correr. Opções de concreto, bloquetes e até uma parte de terra, provavelmente aguardando plantio de grama. Mas, da esquina com a entrada do clube de campo, a coisa ficava meio feia. Dali para frente era só terra fofa mesmo; ou arriscar ir para o cantinho da avenida, ao lado do meio-fio, e toda hora ver carro tirando fina. Tudo em nome da segurança. Encheu a sola do tênis de barro.

 

Meno male, o trecho rústico era pequeno. Logo chegamos à primeira rotatória; dali, até a segunda, depois do rio, era um pulo. No bairro Urbanova propriamente dito, o trânsito era um pouco menos intenso, com mais tranquilidade para seguirmos adiante. Viramos, como de costume de várias outras ocasiões, à direita na entrada do bairro. Aquele caminhozinho de quadrados de concreto é terrível, bom para torcer o pé, mas mesmo assim segui por ele, pulando de dois em dois. Já estávamos perto dos dez quilômetros de trajeto. O Toninho, como sempre, quis pegar a pista da esquerda, que leva à parte mais elevada da Avenida Possidônio José de Freitas, cheia de altos e baixos. Nananina... O arquiteto do treino hoje era eu, iríamos por baixo mesmo. A mesma avenida, só que planinha da silva. 

 

O bairro Urbanova

 

Comentei com o Luis Carlos sobre as marcas no chão, ainda existentes, da prova AMS-Litoral, realizada em 2005. Quase quatro anos depois, ainda dá pra ver a marcação dos quilômetros 4 e 5 daquela corrida. Tinta de boa qualidade. A boa iluminação da avenida, coisa meio recente (já treinara por lá meio no breu antes), ajudava bastante. O Wilson, mesmo tendo feito 10 km na manhã do mesmo dia, sobrava e seguia tranquilo, quase sempre liderando o pelotão. Mesmo quando acabou a moleza e vieram as subidas, depois de passarmos em frente à sede do GACC. Na primeira, eu acompanhei bem, diminuí inclusive, junto com o Luis Carlos, a distância para a dupla que ia à frente. Na segunda, no entanto, apareceram as diferenças entre os níveis atléticos. Ficamos pra trás: enquanto o mais veloz de nós contornava a “praça” por fora, o fizemos os três restantes pela parte interna. Só assim para tirar a diferença. Chegamos à descida novamente todos juntos. Ufa!

 

A fonte única de hidratação era a garrafinha de 510 ml que o Toninho levara. Com ela, além de compartilhar com os amigos, tive que diluir o gel, último do meu estoque (LEMBRETE: comprar mais!). O Wilson estava tão no apetite de correr que lamentou, quando chegamos ao segundo campi da mesma universidade da praça do início do percurso, porque viramos à esquerda para descer; e não à direita, para subir. Subida de responsa, uma das mais íngremes da cidade, por sinal. E que beleza de descida oposta! Embalado por ela, por alguns instantes, fiquei até a frente do grupo. Por essas e outras é que só vou para o Desafio da Mata Atlântica quando inverterem o percurso...

 

A subida que o Wilson queria encarar (parte mansa dela)

 

Só que eu preferi a descida

 

 

A partir dali, tudo era caminho de volta. Antes, um pit stop estratégico para todos nós. O bar Adega Urbanova já virou uma espécie de ponto de parada obrigatório nos nossos treinos por ali. O proprietário, que já chegou a fazer fiado uma vez que não tinha troco, nos conhece e cumprimenta sempre. Secamos por lá um garrafão de 1,5 litros (parte para reencher a garrafinha) e seguimos adiante. Depois da parada, mesmo breve, como ficaram pesadas as pernas!

 

Veio o retão da Shishima Hifumi, novamente a rotatória do rio e finalmente deixamos o Urbanova. O Toninho, para quem eu enviara, mas que não recebera o mapa, não estava sabendo direito qual seria o caminho de volta, achava que simplesmente pegaríamos a subida da Cassiano Ricardo, opção mais trivial. Quando soube que seria pela Via Oeste, disse que teria que se preparar psicologicamente. Virou até piada. O Luis Carlos disse que não dava pra pegar a avenida nova, porque tinha tombado por lá um caminhão de lixo radioativo. Quando chegamos a ela, depois de passarmos novamente pelas reformas todas da ida, já estávamos na altura do km 19. O cansaço, pelo menos pra mim, começava a bater. O fartlek de 12 km e poucos do dia anterior, feito com ritmos alternados forte/fraco (o “forte” chegou a ser 4:35, hardcore pra mim), mandava lembranças. O caminho com subidas até o Jardim das Indústrias seria um pouco mais doloroso que o da “Conquista do Oeste”. Mas seguiu bem, pelo menos pelo trecho plano da nova avenida. Chegamos a cogitar a possibilidade de virar à esquerda no cruzamento (que leva de volta à Cassiano Ricardo, mas passando primeiro pela Avenida Campos Elíseos) e encurtar um pouco o trajeto, mas acabamos decidindo por seguir adiante. A subidinha era encardida. No final dela, mais um golinho d’água para ajudar. Os cachorros da área chegaram a ameaçar um ataque, mas a coisa ficou por isso mesmo. Ainda bem! Dar pique àquela altura, mesmo pra escapar da mordida, seria complicado.

 

Pôr do sol na Via Oeste

 

E complicado mesmo ficou quando apareceu a subida, curtinha de tudo, mas quase vertical ao lado do condomínio residencial em construção. O Wilson, de férias, quase seguiu reto, talvez com saudade da chapeira. Mas, quando subiu, o fez engrenado, parecendo até que estava no plano. O Toninho acompanhou de perto. Eu e o Luis ficamos um pouco para trás, até porque andamos. Por pouco tempo, apenas até o solo estabilizar novamente. Depois retomamos o trote pela Rua dos Cajueiros. Faltava pouco. Pegamos a lateral do estacionamento da Johnson e, em seguida, o trechinho da Avenida da Ferradura. Ao invés de sairmos direto na marginal da Dutra, como no treino anterior pela região, pegamos uma rua paralela anterior, porque o Wilson queria mostrar onde morava nosso amigo Tonico. O único problema é que isso nos levaria a outra subida, na extremidade oposta da avenida que contorna todo o bairro. E isso praticamente nos obrigou, a mim e ao Luis Carlos, a andar novamente. Mais uma vez só até o plano, mas o suficiente para perdermos contato de vez com os dois camaradas lá da frente, que já tinham entrado de volta na Cassiano Ricardo e sumiam de vez na escuridão.

 

A altimetria (bem puxada) do treino

 

Na última reta, bastante longa por sinal, a passada já era bem mais lenta que no começo do treino. A vontade era de encerrar logo, o cansaço era mais que evidente. Resisti o quanto pude, mas não insistiria até o final. Antes de chegar de volta à Vinac, na esquina em que tínhamos deixado a avenida no caminho de ida, resolvi parar. O Luis Carlos ameaçou seguir em frente, mas parou também, poucos metros depois. Continuamos andando até o final, com mais quatrocentos ou quinhentos metros de caminhada e bate-papo, bom pra voltar o organismo à calmaria. No final, na falta do kit-lanche, farta distribuição de barrinhas de goiaba e chocolate, à escolha do freguês.

 

Acabaria sendo um treino com velocidade bem abaixo do esperado, mas mais que proveitoso pela distância e, sobretudo, pela companhia sempre agradável dos amigos. Quem dera fosse sempre assim! Que me faz retomar o caminho das longas distâncias, o primeiro de vários treinos acima dos vinte quilômetros que pretendo enfrentar na preparação para a minha terceira maratona. Quem quiser nos acompanhar nos próximos, é só avisar, será muito bem-vindo.

 

Os “Fab Four” do treino

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